Autora: Irina Ginga
Ela ajoelha-se com delicadeza, carregando
no movimento do seu corpo a expressão dos seus sentimentos. Despe seus pés,
sujos da caminhada, e não se envergonha de os beijar ainda assim. E é com
delicadeza que os coloca na água que preparou e, entre sorrisos, entrega-se com
puro sentimento a uma tarefa que nem todos compreendem. Descida em seus joelhos, ela não se humilha, não
se rebaixa. Olhando-o de baixo, ela sorri, porque só uma mulher entende os
calos de um caminho.
Entre várias histórias contadas no mundo, o homem luta, rebela-se, guerreia e
conquista.. por milhares de motivos diferentes. Mas quando encontra a Mulher,
entrega-se a uma caminhada nova, uma estrada desconhecida, em que as armas que
conhece não matam, os seus pulsos não magoam e a retórica perde o sentido.
Quando uma mulher lava os pés do seu homem, acompanha-o nos caminhos que ele
percorre. Retira os espinhos que o fazem coxear. Reconhece os trilhos pisados
nos calos que o preocupam. Com o sabão do seu amor recupera os pedaços do seu
coração que ele pisou. Humilde, devolve-lhe a dignidade, alimenta a esperança
com o seu toque. Com o sal da água restabelece as suas forças. Com os seus
beijos reconhece a importância do seu esforço, retira o peso do que já passou,
prepara-o para mais um dia.
Ela é o seu apoio, o seu suporte, a sua orientação. Ele é o braço que a eleva,
o abraço que a reconforta. Um se revela no outro. Vem.. que quero descer em meus joelhos, despir-me dos complexos do mundo que
nos rodeia. Colocar teus pés naquela bacia, mostrar-te a pureza das coisas
simples. É nas pequenas coisas que se expressa o amor.
Um amor que não se cansa, um amor que só com amor se pode pagar.Minhas mãos limpas. Teus pés lavados.