Aquele sentimento sem nome
Ela sentava sozinha a noite e se perguntava porque não dava
fim nesse sentimento morno, porque simplesmente não procurava alguém mais dela,
não no sentido de propriedade, mas sim uma pessoa que tocasse seu coração, que
tivesse pele de “esse abraço jamais esquecerei”, uma boca que beijasse a alma
por inteiro sem deixar nenhum pedacinho de fora. No fundo ela sabia que esse
namorico não ia para frente, eles não tinham aquele elo que faz as pessoas terem
vontade de ficar juntinho num aconchego infinito, Fernando era apenas uma companhia
masculina agradável o suficiente até que a vida lhe ofertasse a oportunidade de
encontrar um amor de colo macio e que enchesse seus dias de mais sorrisos.
Entre eles havia um acordo tácito de “mente que eu finjo que
acredito”, ainda que não pronunciado, nunca sequer haviam falado em oficializar
o rolo deles, apenas trocavam banalidades sentimentalóides amenas, tudo raso e
superficial. O assunto amor era evitado como um campo minado, pois no momento
que se tocasse no delicado tema, ficaria escancarada a farsa de ambos que
fingiam que poderiam se encaixar um dia. Era o recurso de dois solitários para
ter ao menos uma paródia de paixão que aquecesse seus corações nos caminhos já
tão frios do dia a dia.